sexta-feira, maio 22, 2009

O comodismo da fé!


Hoje me peguei pensando no atraso em que a sociedade se meteu quando descobriu a fé.

Ou seja, desde sempre.

Entenda. Em momento algum eu quero questionar a religiosidade nem seus benefícios e sim questionar a postura de comodismo que o humano se encontra perante a fé.

Vou tentar explicar melhor fazendo um relato sobre o começo e evolução das religiões.

Você é um homem pré histórico. Um raio cai no horizonte com um belo trovão de apoio. O susto é óbvio. Fica claro que alguém causou isso. Um ser superior deve estar com raiva. Mas vem a chuva, as plantas florescem e os frutos aparecem. Você entende que não era raiva... era apenas a forma que o tal ser superior encontrou de mandar sua benção ao mundo. Então toda vez que o raio cai, você agradece, pois sabe que o rango vai ficar mais fácil. Como é natural ao humano, você resolve nomear o tal ser superior. Vamos chamá-lo de Claudin. Então você conta a todo mundo sua descoberta. As pessoas percebem que você tem razão... Tudo faz sentido. Você passa a ser uma pessoa importante na comunidade, pois sabe o que Claudin pensa... Acaba de se tornar um sacerdote!
Com tempo livre você passa a observar melhor a natureza em busca de novos poderes de Claudin... Ou até novos deuses.

Eis que nota que aquela bola de fogo no céu traz a luz e calor todos os dias e a bola brilhante traz a escuridão e altera o mar. Obvio... são novos deuses que interagem com Claudin. Vamos chamá-los de Foguinho e Brilhosa. Claudin parece ser mais poderoso, pois consegue, com seu manto escuro, esconder Foguinho e Brilhosa.

Com o tempo inúmeros deuses surgem, cada um com sua função. É uma religião mais lógica que as atuais, pois ainda não existem historinhas e os deuses claramente interagem com os humanos.
Um belo dia para de chover. Tudo fica seco, plantas morrem, lagos secam, o calor está de lascar. Todos se voltam para você, o sacerdote, e perguntam o que está acontecendo. A pressão é grande e você tem que dar alguma resposta. É obvio que os deuses estão chateados... Mas com o que? Depois de muito pensar você resolve soltar qualquer coisa.

Os deuses querem um templo. Assim, todos se reúnem e constroem um templo. Mas a chuva não vem. Então mandam oferendas para o templo. Nada ainda... vamos fazer sacrifícios de animais. Galinhas, vacas, porcos, lagartixas... caramba...nada! Vamos apelar? Sacrificamos um dos nossos. Uma criança!

Funcionou!!! Coincidentemente um tempo depois começa a chover. Ok. Agora sabemos o que fazer. Todo ano nessa época faremos uma festa em homenagem aos deuses e sacrificamos uma criança. Claro...A humanidade ainda não conhece claramente as estações do ano. Ninguém percebeu que a chuva parou na época de secas e voltou normalmente na época das chuvas... Notem que, após consolidada, uma religião tem, através de suas coincidências, respostas básicas que dependem da vontade de um ser ou seres superiores com os quais não temos contato. Eles nos ouvem, mas não os ouvimos. Apenas conhecemos as conseqüências de suas vontades.

É quando a coisa começa a ficar cômoda. Minha plantação não foi à frente, pois Claudin não mandou a chuva e Foguinho torrou tudo. Não devo questionar pois essa é a minha fé. Com certeza fiz algo que eles não gostaram.

Aquela tribo vai continuar fazendo o sacrifício humano naquela época até o fim dos tempos... ou até que alguém deixe a comodidade de lado e resolva estudar o que realmente acontece. Nada de “Deus quis assim”. Vamos criar um sistema de irrigação para aquela época do ano? Vamos armazenar água? Terras mais férteis? Não podemos culpar aquela sociedade. Eles fizeram o que era lógico devido ao pouco desenvolvimento cultural.

Agora nos transportemos para os tempos atuais. As sociedades evoluem principalmente à custa de revolucionários que tentam vencer a barreira da fé. Se na pré história só tinha o Claudismo, agora temos budistas, católicos, muçulmanos, judeus, zoroastras... enfim...um número absurdo de pessoas que entendem o que Deus ou os Deuses querem. As antigas religiões viram mitologias e as novas acham um absurdo que antes acreditassem que o Sol era um Deus. Ou que vivia um deus com rabo de peixe e um tridente nos mares... mas acham a coisa mais normal do mundo um cara andar sobre as águas e transformar água em vinho, ou um Deus com cabeça de elefante com vários braços ou ainda uma sereia que controla as águas... A minha religião pode ter esquisitices... As outras não.

E tudo fica cômodo. Não posso usar camisinha por que Deus não quer... Se eu pegar uma doença foi ele que quis assim. Para que botar o doente mental no hospício? Ele está obviamente com um espírito obsessor, ou uma possessão demoníaca. Não posso clonar órgãos, usar células tronco. É incrível a quantidade de pessoas esclarecidas que eu conheço que não acreditam que os dinossauros existiram. Aqueles fósseis são um complô internacional contra a sua religião. Algumas não permitem que se corte o cabelo, outras mutilam garotas para que não sintam prazer, outras ainda não permitem que seus membros usem medicamentos ou façam transfusão de sangue.
É tudo muito cômodo. Deus quer assim e pronto.

Novamente volto a frisar que não quero discutir religiões. Pelo menos não agora, pois se houve comodismo, também houve e existem ainda vários benefícios. O fato que impede o bem também impede o mal. O Medo! O medo que Claudin jogue um raio na minha cabeça me fez pensar duas vezes antes de matar um cara que eu não gostasse. Ou o medo de passar uma eternidade num mar de fogo e enxofre me impediu de roubar o carro do meu vizinho.

Eu me ponho entre essas pessoas. Eu também tenho dúvidas. Quem lê o que eu escrevo deve pensar que sou ateu e isso não é verdade. Sou agnóstico. Eu acredito que existe alguma força por traz disso tudo. Só não acredito que alguém um dia em vida vai descobrir o que essa força quer ou deixa de querer... Se é que algum dia ela já quis alguma coisa.

E assim vai a sociedade... A passos de tartaruga no desenvolvimento da humanidade.

sexta-feira, maio 01, 2009

Seitas suicidas - Templo dos Povos


Grandes heróis normalmente possuem nome e sobrenome iniciando pela primeira letra. Peter Park é o Homem Aranha, Clark Kent (ok...foneticamente é o mesmo som) é o Superman, Scot Summers é o Ciclope, Bruce Banner é o Hulk, Claudio Cunha ... Sou eu! (Sim...tem um Cunha antes do Gaspari). Mas as vezes temos grandes mentes doentias apresentando a mesma característica. Essa é a história de Jim Jones.

Pensei muito em como contar essa história para vocês e nunca sabia como começar. Primeiro por ser uma história que sempre me fascinou... Não como admiração ou desprezo e sim com espanto. Eu sempre tive facilidade de entrar numa mente doentia e imaginar o que a pessoa está pensando. Consigo, por exemplo, imaginar o que um serial killer clássico deseja com seus delitos. Na maioria dos casos, dá para imaginar, pelo menos suavemente, o que se passa em suas mentes e, no caso de Jim Jones, eu nunca consegui invadir seu cérebro. Para mim é uma completa incognita.

Outra coisa que sempre me espantou foi a amplitude de seus feitos e a quantidade de pessoas que ele conseguiu convencer, de uma forma ou de outra, a tirar a própria vida sem relutar. Eu pensei em fazer um texto constando passo a passo a vida do cara e fazer surpreza quanto ao final, mas até o título estraga tudo...Afinal estamos falando de seitas suicidas e o final não pode ser muito diferente do que vocês estão pensando...Sim...Praticamente 1000 pessoas tiraram suas vidas apenas pelo desejo de um homem. Tudo por... Jim Jones.

Agora sim vamos contar passo a passo como essa barbaridade típica de filmes de horror conseguiu tomar a vida real. Ao longo do texto vou tenta expressar o que eu penso das suas intenções.

Li em alguns lugares que Jim Jones já tinha um certo mal no seu coração na infãncia. Boatos contam que tinha mania de pegar gatos e pendurar pelos rabos no varal para que brigassem até um deles morrer. Do mesmo modo, havia algo de bom no seu coração. Seu pai era membro da Ku Klux Klan, conhecido grupo racista norte americano, mas Jim Jones não concordava com essa separação racial e lutava contra a discriminação.

Então Jim cresceu e iniciou sua luta pelo que acreditava ser o correto. Fez um curso de pastor por correspondência (é sério...Não é piada!!!) , virou Reverendo e criou sua própria religião cristã na década de 50 chamada "Templo dos Povos". O que ele pregava? Igualdade, desenvolvimento da força moral e desapego aos bens materiais. A coisa estava funcionando. O sujeito tinha uma lábia maravilhosa e atingia em cheio aos mais fragilizados. Se nos EUA a luta racial ainda é forte, imagine na década de 50! Pois Jim Jones pregava pela igualdade. Queria brancos, negros, latinos, amarelos...todos juntos como um só povo. Da mesma forma que atraia uma massa de pobres coitados, também atraia olhares de desaprovação.


Como toda igreja, o Templo dos Povos vivia com a grana dos fiéis. E quanta grana...Esse lance clássico já conhecido por nós..."Prove sua fé me dando tudo o que tem". O bambá estava dando tão certo que com o tempo Jim comprou emissoras de rádio e televisão (sem comparações, por favor). Em 70 Jim transferiu a sede da empres...Igreja para São Francisco e entrou na vida política pelos bastidores. Sabe o filme Milk que conta a vida de Harvey Milk, ativista político gay? Pois é...Jim era um dos maiores financiadores da campanha. Ele realmente lutava pela igualdade dos povos e era socialista de carteirinha. Ele reralmente não tinha discriminação alguma em seu coração...Tanto que transava com todo mundo...fosse homem ou mulher, fiel à igreja.


Parecia que ele ia conseguir prosperar cada vez mais. Mas o que é bom (para ele) não durou tanto. As acusações começavam a aparecer e em 77 um jornal publicou uma grande matéria derramando seus podres. Apropriação de bens dos fiéis, torturas físicas, psicológicas e falsos milagres. O governo começou a investigar tudo e Jim fez o que todo meliante faria...Fugiu...Caiu fora do país. E não foi sozinho! Como ele já esperava algo parecido, alguns anos antes ele comprou um grande terreno na Guiana e iniciou o que ele viria a chamar de Jonestown.

Lá , ele começou sua utopia. Uma comunidade autosuficiente onde todos eram iguais e ele poderia ser o próprio Jesus Cristo. Os que o seguiram esperavam chegar numa espécie de paraíso, onde nunca mais passariam fome ou medo... O dinheiro nunca mais regularia suas vidas e todos seriam eternamente felizes. Mas o que encontraram não era bem o paraíso.

Primeiro. Jonestown não estava totalmente pronta.Todos teriam que trabalhar, e muito até a coisa começar a funcionar. Então que tal quase mil pessoas num lugar sem infraestrutura nenhuma? Tomar banho? papel higiênico? Comida farta? Notícias do mundo?
A única coisa que eles ouviam era a voz de Jim Jones nas caixas de som espalhadas por todos os lugares.

Segundo. Em um lugar como esse divergências começam a aparecer. E se alguém comessasse a reclamar? Os "Anjos" (guardas armados) de Jim apareciam e ameaçavam a pessoa. Isso quando não partiam para a agressão física. Jim Jones faria aquele lugar funcionar de uma forma ou de outra. O povo não entenderia no início mas depois todos agradeceriam as porradas que levavam.

Em resumo...O lugar virou praticamente um campo de concentração onde a fuga era punida severamente.Quem fugia era punido, quem reclamava era punido, quem parasse de trabalhar era punido.

O próprio Jim Jones estava notando que a coisa não ia funcionar. Em depressão ele começa a se entregar (mais, por que ele já era adepto) a bebidas e drogas.

Nos EUA os parentes dos que ficaram começaram a exigir do governo uma investigação. passeatas eram organizadas. O povo queria saber o que estava acontecendo. Então, são escalados para visitar Jonestown, um Deputado chamado Leo Ryan e alguns jornalistas para investigarem o que acontecia no local.

Quando eles chegaram, se espantaram com a organização. Pessoas felizes, bem vestidas os receberam com festas. Não havia nada de errado por lá. O deputado até comenta que achava difícil que eles fossem tão felizes assim na sua vida nos EUA.

O problema é que , obviamente, Jim preparou o terreno antes da chegada dos caras. Obrigou a todos que vestissem suas melhores roupas e fez ameaças de morte a quem tentasse contar o que acontecia.

Só que a comitiva acabou ficando tempo demais. Tempo suficiente para receberem bilhetinhos com pedidos desesperados de socorro. Perguntaram a Jim o que era aquilo e ele respondeu com a cara mais limpa do mundo: São brincadeiras de alguém.

Então o caos se instala. Um fanático tenta esfaquear o deputado sem sucesso.

Esse foi o começo do fim! A comitiva, com a pulga atras da orelha, tentou sair dali o mais rápido possível. E tentaram levar alguns desertores com eles...Mas na hora de embarcar no avião foram suspreendidos pelos Anjos. Com armas em punho, deflagaram vários tiros que mataram o deputado e mais quatro pessoas. 11 ficaram feridos.

Agora Jim sabia que tinha ido longe demais. E como uma criança que não vai mais brincar e também não quer que ninguém brinque, ele resolve destruir o que tinha começado... Jonestown vai morrer e todos que estão dentro dela, também!

Era algo que já estava dentro dos planos dele. Tanto que apenas disse pelos auto-falantes:

- Por favor, tragam o remédio!

É esse momento que sempre me espantou. Uma coisa é fechar um campo de concentração nazista metralhando todos os Judeus que estavam dentro. Outra é oferecer a própria arma ao condenado para que ele se mate.

Todos receberam um copo com suco misturado com veneno e, em sua grande maioria, mesmo sabendo o que estavam fazendo...eles tomaram...

Claro. Alguns relutaram, mas acabaram sendo convencidos a tomar. Mães davam a seus filhos pequenos e depois ingeriam a droga. Nas caixas de som só se ouvia a voz de Jim Jones insistindo para que os relutantes aderissem ao suicídio coletivo.

"Morram, morram com alguma dignidade. Vamos acabar logo com isso. Acabar logo com essa agonia."

"Rápido, rápido. Se não podemos viver em paz, vamos morrer em paz"

Antes de morrer, com uma bala na cabeça (não se sabe quem o matou) Jim deixa sua última mensagem:

"Não cometemos suicídio. Cometemos um suicídio revolucionário contra um mundo desumano"

Esse foi o fim de Jonestown e a seita Templo dos Povos.




Vocês sacaram onde eu quero chegar com isso tudo? Jim Jones não era Deus, não tinha poderes mágicos e não botou uma arma na cabeça de quase ninguém...pelo menos não no dia. Ele usou apenas o poder da palavra para convencer quase 1000 pessoas a cometer suicídio. Claro que alguns devem ter sido forçados a isso, mas pensem... 1000 PESSOAS. Haviam pouco mais de 300 crianças. O restante de adultos. Acham mesmo que haviam "Anjos " suficientes com armas para convencerem 400 pessoas adultas a se matar? Claro que não...Principalmente por que os Anjos também se mataram!

Quantas mentes fracas juntas...quanto poder nas palavras de um homem. As imagens aéreas do local após o suicídio são incríveis. Um mar de gente morta ao chão. Até cães mortos haviam... Acredito que os cães não suicidaram-se...mas enfim! HUahuahuah...Foi mal...esqueci que o texto era sério...

Ok, povos...Esta é a história do maior suicídio coletivo da história da humanidade. Esperam que tenham gostado... Em breve eu conto mais sobre isso...o que tem de seita suicida por aí não é pra brincadeira.


Curiosidades:

Jim Jones tinha dois filhos na cidade. Um branco e um negro. Ambos foram mandados para uma cidade vizinha um dia antes do suicídio coletivo.

Quando as acusações de apropriação indebita de bens dos fiéis começaram a aparecer, Jim Jones veio morar no Brasil em Belo Horizonte, onde ficou um ano até a poeira baixar. Depois retornou aos EUA.

Jonestown sobreviveu no meio da selva da Guiana por quase um ano antes de alguém resolver se preocupar com ela.

O dia em questão foi 18 de novembro de 1978.



Chico Anysio tinha um personagem chamado Tim Tones no seu programa humorístico da Globo. Vídeo abaixo:



Se ficou curioso veja a reportagem abaixo da rede Globo. Verão que toda a história de Jonestown foi documentada. Tem vídeos de tudo!